Toda vez que um escritor se aventura em iniciar um livro
policial, deveria se questionar: para quem vou escrever? Quem é o meu público?
Bem, questões complicadas essas, afinal, como padronizar os leitores,
considerando-os todos iguais e colocando-os num mesmo patamar, como se a
individualidade de cada um não existisse? Sim, entendo que ser humano nenhum no
mundo seja igual ao outro, entretanto, ao analisar o perfil daqueles malucos
que gostam de literatura policial, podemos encontrar algumas características em
comum.
Vou listar dez dessas características. A maioria dos
leitores vai se enquadrar em, no máximo, seis delas. Acima disso, bem, aí já
não considero o elemento um fã do gênero, mas um fanático, um maníaco perigoso
à solta, que ou é do ramo investigativo ou pretende ler livros policiais para
se especializar no crime (que coisa feia!).
Vamos às características:
1) Gosta de mistério
O mistério é condição sine
qua non para um fã da literatura policial. Ele se sente instigado a
descobrir, junto ao detetive (ou antes dele), a grande verdade reveladora de
muitas perguntas. O leitor desse gênero tem o hábito de se antecipar ao enredo,
tentando prever as próximas ações das personagens.
2) Gosta e desgosta de ser mais inteligente
que o escritor
Nessa tentativa de antever o que vai acontecer, de tentar se
antecipar à leitura, o leitor sente prazer quando constata que estava certo.
Contraditoriamente, isso não significa que ele irá gostar da obra, pois a mesma
acabou se tornando previsível, o que é lamentável para quem curte desafios.
3) Tem raciocínio lógico e desconfia de tudo
O leitor presta atenção em todas as pistas deixadas na
estória e faz várias constatações. Ele é muito desconfiado e se o detetive
disser “o criminoso é o fulano”, então, isso já é suficiente para que o leitor
inocente o suspeito. Normalmente, um livro policial tem sua leitura concluída
com várias anotações, rabiscos e dobra de página. É porque o leitor registra as
evidências que levam ao criminoso ou capta nas palavras do narrador algo suspeito, e utiliza
tudo para tirar suas próprias conclusões.
4) Não curte sentimentalismo
Se o(a) detetive é casado ou não, se namora ou se envolve
amorosamente, isso pouco atrai o leitor do gênero. Claro que uma pitadinha de
romance ajuda a construir um plano de fundo atraente e torna o enredo mais
verossímil. Contudo, o leitor vai fazer uma leitura mais superficial nesses
trechos, porque esse tema, para ele, faz parte de um segundo plano.
5) Torce muito por justiça, via legais ou não
O criminoso pode até sair impune quando, de alguma forma,
acaba conquistando o leitor. É o caso do jovem Ripley, em O Talentoso Mr. Ripley, de Patrícia Highsmith; ou o Mestre da
Logística das Drogas, de Atrás do Crime.
No entanto, geralmente, o leitor quer ver o vilão pagar por seus erros. Não
importa como, se na prisão ou por castigo imposto pela própria vida, o
antagonista precisa pagar por seus crimes, e o leitor sente-se aliviado de toda
tensão da leitura quando isso ocorre.
6) Gosta de sentir adrenalina
O leitor gosta de tensão. A parte em que a vítima está
prestes a ser pega; ou a que o criminoso está prestes a ter sua identidade
descoberta por alguém, certamente, é o auge. Veja exemplo de um trecho em que
um jovem adolescente, infiltrado na organização criminosa para passar
informações à Polícia Federal, está prestes a ser desmascarado por um membro do
tráfico:
Um barulho de passos impediu-o de fotografar as demais folhas. Marcos
J. K. apressou-se em guardar tudo novamente no armário. Os passos aproximavam-se
cada vez mais. Não teria tempo de sair dali sem ser percebido. “O que faço? O
que faço?” Alguém se aproximava. Estava perdido! Enrolava a folha transparente
o mais rápido possível. Não tinha mais tempo. O som dos passos se tornou bem
mais intenso até parar por completo. “Pronto, fui pego!”, pensou, trêmulo,
enquanto tentava disfarçar diante da máquina de café expresso da sala de
reuniões.
(Atrás do Crime, p. 141)
7) Inteligente, gosta de uma trama bem
planejada do início ao fim
O leitor gosta de uma trama bem amarrada, sem pontas soltas.
Delicia-se quando vê uma obra baseada numa pesquisa profunda, que traz detalhes
enriquecedores e verídicos do que está no enredo. Além disso, quer que todos os
personagens tenham motivo para terem sido colocadas na estória. Nada de
supérfluo. Tudo está ali por uma razão e o leitor vai fazer questão de avaliar
isso.
8) Gosta de saber passo a passo da
investigação
Os procedimentos policiais ou das instituições precisam ser
verídicos ou, ao menos, bem verossímeis para convencer o leitor. Não é à toa
que muitos policiais de carreira vêm se aventurando no ramo de escritor do
gênero. O problema é que o domínio das técnicas investigativas não resulta,
necessariamente, em um livro com qualidade estética.
9) Adora encontrar gafes no enredo
O leitor experiente na leitura, cuja aptidão de desvendar o
crime foi aos poucos se aperfeiçoando, será detalhista o suficiente a ponto de
poder encontrar gafes no enredo, caso elas existam. Bom para o ego do leitor,
péssimo para a conceituação que terá do escritor.
10) Gosta de sofrer até as últimas páginas
Como dito no item 1, o leitor adora um mistério. Então, caso
descubra os segredos com muita antecipação, vai acabar perdendo interesse pelo
livro. O leitor pode até descobrir segredos paralelos ao mistério principal antes do verdadeiro desfecho,
mas a cereja do bolo deve ser apresentada só mesmo no final.
É isso aí... Você, leitor, possui quantas dessas
características? Até 6? Mais do que isso??? Sem problema, nós, escritores,
estamos aqui, prontos para encher a sua estante com obras eletrizantes do
gênero policial. Quanto mais você ler, mais facilmente descobrirá o que está atrás do crime.
Fique bem, leia muito!
Cristiane Krumenauer
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