Atrás do Crime - conquistando os leitores do Brasil

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quarta-feira, 9 de novembro de 2016

QUEM É você, LEITOR DE LIVROS POLICIAIS?



      Toda vez que um escritor se aventura em iniciar um livro policial, deveria se questionar: para quem vou escrever? Quem é o meu público? Bem, questões complicadas essas, afinal, como padronizar os leitores, considerando-os todos iguais e colocando-os num mesmo patamar, como se a individualidade de cada um não existisse? Sim, entendo que ser humano nenhum no mundo seja igual ao outro, entretanto, ao analisar o perfil daqueles malucos que gostam de literatura policial, podemos encontrar algumas características em comum.

     Vou listar dez dessas características. A maioria dos leitores vai se enquadrar em, no máximo, seis delas. Acima disso, bem, aí já não considero o elemento um fã do gênero, mas um fanático, um maníaco perigoso à solta, que ou é do ramo investigativo ou pretende ler livros policiais para se especializar no crime (que coisa feia!).

Vamos às características:

1) Gosta de mistério

O mistério é condição sine qua non para um fã da literatura policial. Ele se sente instigado a descobrir, junto ao detetive (ou antes dele), a grande verdade reveladora de muitas perguntas. O leitor desse gênero tem o hábito de se antecipar ao enredo, tentando prever as próximas ações das personagens.

2) Gosta e desgosta de ser mais inteligente que o escritor

Nessa tentativa de antever o que vai acontecer, de tentar se antecipar à leitura, o leitor sente prazer quando constata que estava certo. Contraditoriamente, isso não significa que ele irá gostar da obra, pois a mesma acabou se tornando previsível, o que é lamentável para quem curte desafios.

3) Tem raciocínio lógico e desconfia de tudo

O leitor presta atenção em todas as pistas deixadas na estória e faz várias constatações. Ele é muito desconfiado e se o detetive disser “o criminoso é o fulano”, então, isso já é suficiente para que o leitor inocente o suspeito. Normalmente, um livro policial tem sua leitura concluída com várias anotações, rabiscos e dobra de página. É porque o leitor registra as evidências que levam ao criminoso ou capta nas palavras do narrador algo suspeito, e utiliza tudo para tirar suas próprias conclusões.

4) Não curte sentimentalismo

Se o(a) detetive é casado ou não, se namora ou se envolve amorosamente, isso pouco atrai o leitor do gênero. Claro que uma pitadinha de romance ajuda a construir um plano de fundo atraente e torna o enredo mais verossímil. Contudo, o leitor vai fazer uma leitura mais superficial nesses trechos, porque esse tema, para ele, faz parte de um segundo plano.


5) Torce muito por justiça, via legais ou não

O criminoso pode até sair impune quando, de alguma forma, acaba conquistando o leitor. É o caso do jovem Ripley, em O Talentoso Mr. Ripley, de Patrícia Highsmith; ou o Mestre da Logística das Drogas, de Atrás do Crime. No entanto, geralmente, o leitor quer ver o vilão pagar por seus erros. Não importa como, se na prisão ou por castigo imposto pela própria vida, o antagonista precisa pagar por seus crimes, e o leitor sente-se aliviado de toda tensão da leitura quando isso ocorre.


6) Gosta de sentir adrenalina

O leitor gosta de tensão. A parte em que a vítima está prestes a ser pega; ou a que o criminoso está prestes a ter sua identidade descoberta por alguém, certamente, é o auge. Veja exemplo de um trecho em que um jovem adolescente, infiltrado na organização criminosa para passar informações à Polícia Federal, está prestes a ser desmascarado por um membro do tráfico:

Um barulho de passos impediu-o de fotografar as demais folhas. Marcos J. K. apressou-se em guardar tudo novamente no armário. Os passos aproximavam-se cada vez mais. Não teria tempo de sair dali sem ser percebido. “O que faço? O que faço?” Alguém se aproximava. Estava perdido! Enrolava a folha transparente o mais rápido possível. Não tinha mais tempo. O som dos passos se tornou bem mais intenso até parar por completo. “Pronto, fui pego!”, pensou, trêmulo, enquanto tentava disfarçar diante da máquina de café expresso da sala de reuniões.
 (Atrás do Crime, p. 141)

7)  Inteligente, gosta de uma trama bem planejada do início ao fim

O leitor gosta de uma trama bem amarrada, sem pontas soltas. Delicia-se quando vê uma obra baseada numa pesquisa profunda, que traz detalhes enriquecedores e verídicos do que está no enredo. Além disso, quer que todos os personagens tenham motivo para terem sido colocadas na estória. Nada de supérfluo. Tudo está ali por uma razão e o leitor vai fazer questão de avaliar isso.

8) Gosta de saber passo a passo da investigação

Os procedimentos policiais ou das instituições precisam ser verídicos ou, ao menos, bem verossímeis para convencer o leitor. Não é à toa que muitos policiais de carreira vêm se aventurando no ramo de escritor do gênero. O problema é que o domínio das técnicas investigativas não resulta, necessariamente, em um livro com qualidade estética.

9) Adora encontrar gafes no enredo

O leitor experiente na leitura, cuja aptidão de desvendar o crime foi aos poucos se aperfeiçoando, será detalhista o suficiente a ponto de poder encontrar gafes no enredo, caso elas existam. Bom para o ego do leitor, péssimo para a conceituação que terá do escritor.

10) Gosta de sofrer até as últimas páginas

Como dito no item 1, o leitor adora um mistério. Então, caso descubra os segredos com muita antecipação, vai acabar perdendo interesse pelo livro. O leitor pode até descobrir segredos paralelos ao mistério principal antes do verdadeiro desfecho, mas a cereja do bolo deve ser apresentada só mesmo no final.

É isso aí... Você, leitor, possui quantas dessas características? Até 6? Mais do que isso??? Sem problema, nós, escritores, estamos aqui, prontos para encher a sua estante com obras eletrizantes do gênero policial. Quanto mais você ler, mais facilmente descobrirá o que está atrás do crime.

Fique bem, leia muito!















Cristiane Krumenauer






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