Estava navegando pelo site da editora Dublinense quando encontrei um romance que me chamou a atenção:
“Mistério no Centro Histórico”, de Tailor Diniz. Li a sinopse, gostei e como se trata de um autor bem conhecido, procurei-o no Facebook para solicitar amizade. Minha surpresa? Eu já era amiga dele,
e nem havia me dado conta. Casos típicos do Face, não é mesmo? Você vai adicionando
amigos ou vai sendo adicionada, mas a amizade só acontece depois de um segundo
passo, ou terceiro, ou quarto... Bem, o segundo
passo se concretizou quando sugeri trocar nossas obras: enviei o Atrás do Crime; ele, o Mistério no Centro Histórico; e, a
partir daí, uma caixinha de surpresas foi se desvendando aos meus olhos junto ao inteligente e perspicaz detetive Walter Jacquet.
A obra é
ambientada em Porto Alegre, descrita com ares de boemia, o ar refrescante do
bairro Moinhos de Vento e, como o próprio título sugere, o sombrio porém sedutor
centro histórico. Outro personagem, Joãozinho Macedônio, o acovardado frente ao
mundo, é introduzido no enredo. Joãozinho, após várias experiências fracassadas
nos negócios, aventura-se agora na literatura, e, com a visita de seu amigo de
infância, o famoso detetive Jacquet, direto dos Estados Unidos, vê uma
oportunidade de apresentar a sua “novelinha” e angariar algumas sugestões (ou
simplesmente alguns elogios ao seu ego abalado).
Walter Jacquet,
por sua vez, diante de uma narrativa que descreve a explosão de uma bomba em
Porto Alegre e a posterior prisão, quase imediata, do suposto terrorista, fica
completamente intrigado com a forma como o caso foi “solucionado” pela polícia.
É aí que Jacquet decide investigar o caso, alertando o amigo escritor que sua
novelinha estava muito superficial, era necessário aprofundar os fatos. Joãozinho
parece contrariado, preferindo a lei-do-menor-esforço, alegando que gente
grande poderia estar envolvida, o que representaria uma ameaça não só ao
detetive, mas também à mesada que recebe da família para simplesmente não causar
mais problemas à sociedade.
O que ocorre
depois é pura diversão. Joãozinho provoca risos nos leitores e até a secretária
não poupa de dar-lhe boas broncas. Lembrou-me o espírito bem-humorado de Luís
Fernando Veríssimo e, para falar a verdade, achei que esse tom de humor tornou
a obra de Tailor Diniz peculiar diante de muitos outros romances policiais,
onde o que predomina é a tensão. A leitura ficou fluída, engraçada,
inteligente. Que toque de mestre!
Sem contar que o
velho espírito gaúcho (o de se achar superior aos demais brasileiros por suas antigas
façanhas) é bem retratado e acaba sendo questionado na narrativa. Por um lado,
o oportunista Secretário de Vigilância e Proteção à Cidadania do Estado afirma
que o terror até tentou chegar nas terras sulinas, mas que foi imediatamente
desmantelado pelos órgãos de segurança mais eficientes do país. Por outro, o
detetive Jacquet se questiona: por que os terroristas estariam de olho no Rio
Grande do Sul? O que ganhariam explodindo a marquise de um prédio velho um
ano após o atentado nos Estados Unidos, em 11 de setembro de 2001?
A crítica a esse
sentimento exacerbado dos sul-rio-grandenses, contudo, não é áspera. Pelo contrário,
é bem-humorada, é divertida e acho que a obra revela ainda uma outra essência do
gaúcho: o gosto por rir, por celebrar a vida, por viver leve.
Finalizo dizendo
que o livro é genial. Um policial irreverente e bem escrito. Aos fãs do gênero, um toque de humor raramente
visto e um mistério que vocês, leitores, irão gostar, e muito, de desvendar.
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