Passei o fim de semana, ouvindo negros, brancos e pardos, agredindo-se nas redes sociais, defendendo sua posição neste ou naquele índice apurado pelo IBGE, acerca da desigualdade social e sua relação com a cor que a pessoa tem ou diz ter.
Enquanto uns lastimam a falta de esperanças numa melhoria de condição social por serem negros ou pardos; os brancos que também são pobres, levantam seu discurso de indignação, reclamando sua cota de benefícios nesse ou naquele programa social.
E, enquanto ficam se agredindo, esquecem que o tempo é precioso demais, especialmente para os mais necessitados, e que deveriam dedicar-se a atividades que, de fato, fariam suas vidas mudarem, tais como o estudo e o trabalho, mesmo que o início decisivo para melhorar a vida, não resida nisso.
O primeiro passo, e o mais difícil de todos, não é estudar tampouco trabalhar. É acreditar. Tudo começa no pensamento. Pensar que é possível, quando os indicadores apontam o contrário, quando a vida inteira tem mostrado o contrário, certamente, é a atitude mais intricada de todas.
Para ajudar a pensar diferente, cito alguns exemplos de pessoas que mudaram suas vidas porque acreditaram em si: o incrível Machado de Assis, que embora mulato e pobre, conseguiu ser reconhecido em sua época, século XIX, quando os resquícios da escravidão ainda eram evidentes por toda a parte do Brasil.
Cito outro: Lima Barreto. Jornalista e escritor, com avós que fizeram parte de povos escravizados, soube retratar o Brasil como ninguém. Suas obras são dignas de serem estudadas até nos dias atuais.
Cito mais um: eu mesma. Embora branca, fiz parte dos índices de baixa renda, morando numa cidade minúscula, sem escola particular, nem cursinho de línguas e, obviamente, sem universidade. Nada disso me impediu: fiz inglês, espanhol, francês, graduação, especialização, mestrado, e estou prestes a publicar meu nono livro (um suspense psicológico, que retrata as mazelas geradas pelo preconceito histórico da sociedade).
Acreditar, portanto, é essencial. É o que leva ao segundo passo: agir.
As ações são penosas, farão abdicar de prazeres mundanos. Enquanto seus amigos estiverem gastando os últimos tostões com cerveja, roupa nova, celular de última geração; você estará pagando seus estudos, comprando livros, e usando aqueles tênis furados que enchem de água quando chove. Recusará convites para o shopping center porque precisará trabalhar e estudar, ao mesmo tempo; e será considerado diferente pelos amigos por causa das suas prioridades.
Com o tempo, o agir vai levá-lo a algum lugar. Você não ficará rico, provavelmente. Mas estará numa posição mais confortável. Alguns amigos podem até chamá-lo de esnobe, embora saibam (todos eles) o quanto você lutou para melhorar de vida.
Então, negros, brancos e pardos, sugiro que acreditem.
Sugiro também que ajam. A pobreza, injustiça, desigualdade existem - isso é visível, é irrefutável. O que faz a diferença é persistir. Cair e levantar, cair e levantar.
Eu acredito, sempre.
Não pode haver mazela social que supere a nossa persistência.
Não pode haver mazela social que supere a nossa persistência.
Cristiane Krumenauer
Escritora
Conheça mais da autora:
Contos da Namíbia. Disponível em e-book:
https://www.amazon.com.br/s/ref=nb_sb_ss_c_2_20?__mk_pt_BR=ÅMÅŽÕÑ&url=search-alias%3Dstripbooks&field-keywords=cristiane+krumenauer&sprefix=cristiane+krumenauer%2Caps%2C258&crid=31XG4JKLYL8CX
Romances Policiais. Impresso. Disponível na Saraiva:
https://busca.saraiva.com.br/busca?q=cristiane+krumenauer
Nenhum comentário:
Postar um comentário