Meu pai é um perfeito contador de causos. Todos reais,
segundo ele, e acredito que sejam mesmo. Numa dessas histórias, ele era um
adolescente, cavalgando para casa por uma ruazinha de chão, estreita, iluminada
pela lua (sim, não havia e ainda não há luz naquela estrada). Para que a história seja bem-detalhada, melhor dizer que ele morava no meio do nada, entre
sítios nem sempre ocupados e o vizinho mais perto residia a incríveis dez
quilômetros. Talvez mais, quem é que mediria as distâncias naquele fim de
mundo?
Então, numa noite em que era guiado pelo cavalo, pois ele
mesmo não enxergava um palmo na frente do nariz, eis que o sinistro ocorreu.
Num trecho rodeado por capim Santa-Fé (meu pai o sabia pelo
farfalhar específico das folhas ao vento), o cavalo de súbito parou.
“Vem bicho grande por aí”, pensou, achando por bem
soltar as rédeas para que o cavalo assumisse o controle, caso fosse necessária
uma fuga. O cavalo deu um passo à frente e se arrepiou todo. A respiração do animal ficava mais ofegante à
medida que se aproximava do capinzal. Passo por passo era dado com muito
receio, até que disparou, correndo sem controle.
O cavalo só parou em casa. O pelo úmido, puro suor.
“Que bicho que assustou o cavalo, pai?”
“Até hoje não sei. Não vi nada... mas que era grande, ah, isso
era!”
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