Durante a gravidez, caminhamos, altivas,
sendo admiradas e veneradas por todos que nos cercam. Transparecemos essa
superioridade, não com ações egoístas e orgulhosas, mas com uma doçura cândida
que parece amenizar todas as dores do mundo. Não há nada que um olhar de mãe
não cure. Em meio às chagas, as mães, com suas barrigas imponentes, perambulam
e seu olhar complacente vai, aos poucos, cicatrizando todas as feridas. Não existe
tristeza no coração de uma mãe e sua única necessidade é o bem-estar do próprio
filho.
Nove meses passados, nasce o bebê e a
atmosfera de proteção daquele ser tão inocente, tão indefeso, só vem a aumentar.
Na gravidez, essa atmosfera resume-se em falar de tudo o que ocorre com o
pequeno: se mexeu, se chutou, se é menino ou menina, se está crescendo...
Contudo, ao nascer é que um enigma se inicia e as razões disso, apenas uma
divindade seria capaz de explicar. Não é apenas que o bebê necessite de
cuidados durante as 24 horas, e sim, as mães que não conseguem se desligar nem
pensar em outra coisa a não ser neles. É como se um véu fosse posto para não
permitir outra distração a menos que essa envolva o pequeno ser.
A mãe não dirige, apenas guia o carro com
os olhos no retrovisor, verificando se o bebê está em segurança na cadeirinha.
A mãe não cozinha, apenas prepara as
refeições, o olhar confuso, dividido entre as panelas e o filho.
A mãe não assiste às novelas, apenas se
senta por alguns breves e relaxantes instantes em frente à televisão, enquanto
o silêncio do bebê que dorme a faz perguntar-se se está realmente tudo bem.
A mãe não dorme, apenas repousa os olhos
enquanto os ouvidos permanecem atentos a qualquer suspiro, a qualquer movimento.
A mãe não sente dor, pois o sorriso de um
filho equivale a milhares de doses de anestesia, fazendo com que se levante
sempre e tenha forças para continuar.
Tudo isso não ocorre somente porque as
mães são zelosas ao extremo. É mais do que isso: parece provir da naturalidade,
de um instinto irrecusável, impossível não ser assim. Aos poucos, ao passo que
a criança cresce, essa atmosfera de proteção vai se tornando mais amena: é
preciso que a mãe retome sua vida e que deixe o filho mais independente. Ela
sabe disso, ela compreende isso. Contudo, não é fácil! A hora da
conscientização de que ambos são dois, e não um só, é um dilema não só para o
bebê, que chora assustado e clama por aconchego, mas também para a mãe.
O rompimento acontece e, tal como o
parto, é inesquecível e doloroso.
Ainda assim, faz parte da vida, é natural
e irrecusável. O filho cresce e, agora, já não anda mais ao lado, mas à frente
da mãe. Ela não lamenta, antes sorri, a superioridade ainda estampada no rosto.
Quanto mais tento entender tudo isso,
esses elos que se formam naturalmente, esses sentimentos que nos envolvem e
dominam, menos palavras me vêm. Talvez porque a explicação seja mesmo divina
ou, simplesmente, porque a Mãe Natureza seja perfeita.
Também sei que haverá os que discordam da
minha visão do papel de mãe, no entanto, compreendam: não se trata de um ponto
de vista, mas de uma força contra a qual não se pode lutar. Não estou
defendendo nenhuma tese, nem procurando coerência como numa argumentação, estou
apenas descrevendo de forma simples e direta os mistérios da vida. E se,
novamente e com mais veemência, continuam a discordar, creio que é porque a
labuta diária não tenha deixado espaço para a Mãe Natureza impor toda sua grandeza
e magnitude que avassalam e, nitidamente, transformam a vida de uma pessoa.
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