Atrás do Crime - conquistando os leitores do Brasil

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quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

MILAGRE DA VIDA

   
     “Eu vos declaro marido e mulher”, disse o padre, permitindo o beijo apaixonado do casal recém-formado. A confiança vista nos olhos de Edgar transmitia a Lara a certeza de que seriam muito felizes. Não sabia explicar, mas Lara havia sentido isso desde o primeiro momento em que seus olhos encontraram os dele, no shopping Santa Cruz, na lotada praça de alimentação. Havia sido inacreditável: em meio a tantas pessoas, Edgar lá estava, com seu olhar atento e tranquilo, fazendo-a esquecer-se da algazarra de corações solitários que ocupavam assentos e mesas, à espera da mesma sorte que ela, somente ela, teria naquela noite.

    Na lua-de-mel, Lara sentia-se radiante: era a esposa mais feliz do hotel. E dormia tranquila após um dia agitado, tendo em mente a imagem entorpecedora dos olhos de Edgar. De volta ao trabalho, quando a tarefa era desafiadora e seus colegas não tão cooperativos, recorria à lembrança dos olhos do esposo, sempre encorajando-a a confiar em si mesma.

    O tempo passou e ela, por mais que recorresse ao olhar límpido de Edgar, sentiu que algo faltava em suas vidas.

    - Um filho? – perguntou ele, um pouco assustado. E logo surpreendeu-a novamente, com um olhar de aprovação. Esse mesmo olhar encantou-a ainda mais quando ela lhe disse:

    - Parabéns! Você vai ser papai!

    Ambos estavam tão radiantes com a expectativa do primeiro filho que, por vezes, perguntavam-se: “Será possível tanta felicidade?” Enquanto isso, a barriguinha já crescendo era uma amostra do milagre da vida.

    Mas numa certa manhã, uma cólica forte despertou Lara de seu sono profundo e o milagre da vida, por alguma razão, mudou o seu curso. Foi a primeira vez que ela sentiu o olhar de lágrimas de Edgar. A perda da gravidez foi aterradora à sua pureza.

    Certamente, não desistiria. Tristeza se transformou em Perseverança. E inusitadamente, na manhã de um domingo ensolarado, Lara colocou dois sapatinhos delicados ao lado de Edgar. A comemoração foi imensa. Voltavam à vida os olhos do esposo que beijava sua boca, em meio a sorrisos quase infantis.

    Mas novamente, Lara perdeu o bebê. Não sabia mais o que fazer. Procurou os olhos de Edgar para se sentir segura, porém neles, só encontrou abismo. Disse-lhe que não perdesse a esperança. Ele fez que sim, transparecendo, porém imensa incerteza. Foram nove anos divididos entre a alegria de uma nova gravidez e o sofrimento de uma nova perda.

    Até que, certa vez, com seis meses, sentiu fortes contrações. Uma garotinha linda e frágil, com um pouco mais de um quilo, nasceu. A luta pela sobrevivência foi árdua, entretanto, o milagre da vida se deu e a felicidade dos olhos de Edgar, dessa vez, manteve-se por longa data. “Tantos obstáculos”, disse Lara ao esposo, “não representaram somente os inúmeros sofrimentos por que passamos, e sim uma vitória. A Vitória de nossa vida.”

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