Olá, escritores! Está focado num projeto? Escrevendo seu livro e não quer perder tempo com distrações? Então, essas dicas lhe cairão muito bem. Vamos a elas:
1) Evite ler livros do mesmo gênero que o seu
Acredite:
não é bobagem! Enquanto estiver escrevendo seu livro, evite-os. Quer saber por quê? Ok.
Você talvez
esteja escrevendo um ótimo livro policial, ou de suspense, ou de terror, ou de
amor nas montanhas de algodão-doce. E, nas horas vagas, lê um best-seller do
mesmo gênero que o seu, daquele autor incrível com o qual você sonha (quando
acordado). Há um problema nisso? Sim, é lógico! Porque em vez de esse autor
inspirar sonhos, ele pode acabar frustrando os seus. É como uma dose
dupla de realidade, sem gelo. Você lê o livro do cara e, inevitavelmente,
compara-o com o seu, que está apenas em processo de criação, sem as correções
necessárias, sem reescrita; ou seja, cru e inacabado. O que vai acontecer? Você
vai achar seu texto uma porcaria.
Então, minha
dica: leia outros livros. Não pense que estou sugerindo que você abandone a
leitura, hein? Nada disso! Aproveite o tempo em que você estiver escrevendo seu
livro, para conhecer gêneros e estilos diferentes do seu. Isso vai trazer
inspiração e novas ideias, sem jogar um balde de água fria na sua escrita.
2) Cheque
as palavras que está usando
Em seus
livros, há apenas palavras de uso comum ou existem algumas que podem ser
acrescentadas no dicionário mental do seu leitor? Não sugiro que use apenas
palavras rebuscadas, a ponto de fazer o leitor gaguejar e desistir da leitura.
Não é isso. Contudo, é sempre bom ensinar alguma coisa, especialmente,
palavras. Você pode, de vez em quando, usar palavras como “umbral”, “soleira”,
“átrio”, “limiar”, na descrição arquitetônica de um lugar. Sempre que puder dar
algo ao seu leitor, desde que não se torne pedante a ponto de descrever a
casinha da fada em cinco páginas, sugiro que use uma ou outra palavrinha
rebuscada.
3) Compartilhe
experiências pessoais
Lembra-se do
seu primeiro beijo? O que foi que sentiu? Com quem foi? Em que lugar? A saliva
dele(a) pareceu-lhe salgada e aquela meleca gosmenta fez você concluir que
beijo era repugnante? Ou, ao contrário, foi uma sensação tão boa que você até esqueceu
que o garoto/a garota estava resfriado(a) bem naquele dia?
Quando você
descreve uma experiência pessoal, tudo se torna mais fácil e atraente. Você
consegue esmiuçar os detalhes, o cheiro que sentiu, a impressão que teve – e
tudo com maior veracidade. Diante disso, alguns leitores vão até se identificar
com a personagem que você criou – afinal, experiências humanas podem ser mais
previsíveis do que se pode imaginar. Nunca são idênticas, é claro, mas são
semelhantes em pontos que jamais podemos imaginar.
4) Não
escute música
Outro
absurdo, não é mesmo? Na verdade, não. Entenda: música desperta na gente muitos
sentimentos. Então, quando você estiver escrevendo uma cena arrebatadora e
acabar desidratando o corpo de tanto chorar, deve se perguntar: “Estou chorando
por causa da cena? Ou por causa da música que estou ouvindo agora?”. Quer fazer
o teste? Desligue o som. Releia seu texto. Você chorou no embalo de suas
próprias palavras? Ou faltou a música de fundo para que atingisse o ápice das emoções?
A dica é
válida porque o seu leitor não estará ouvindo a mesma música que você. E, ainda
que escute, talvez o leitor nem goste daquela música. Portanto, você deve levar
o leitor a chorar, a rir, a se comover, a se assustar – sem música! Apenas com
suas palavras. Por isso, é complicado produzir um texto e escutar a sua música
preferida ao mesmo tempo, ok?
5) Dê
uma caminhada, enquanto pensa no próximo capítulo
Muitos
escritores são estranhos – parecem sempre perdidos nos próprios pensamentos,
não é mesmo? Às vezes, meu filho conversa comigo e eu tenho que parar de
perseguir o bandido com meu 38 para voltar à realidade e dizer “O que foi que
disse?”. Isso acontece quando mergulhamos de cabeça num projeto, e não há nada
melhor do que aproveitarmos nosso tempo ao máximo. Uma sugestão eficaz: vá
fazer sua caminhada ou sua atividade física (não, mover os dedos enquanto
digita durante oito horas não é exercitar o corpo!) e aproveite para criar
mentalmente seu próximo capítulo. Você vai se surpreender quando voltar a
sentar diante do computador – as palavras vão dançar um Rock N` Roll na tela,
afinal, você já sabe o que escrever.
6) Pergunte-se
se seu leitor morreria por seu personagem
Alguns
livros são tão maçantes que nunca deveriam ultrapassar duzentas páginas,
enquanto alguns outros, com mais de quatrocentas, fazem o leitor lamentar
quando está próximo do fim. Um dos motivos disso é quando o autor consegue
fazer o leitor se apaixonar por seus personagens (não dos vilões,
necessariamente), construindo um elo entre eles.
Seu personagem está bem
construído a ponto de ser amado ou odiado pelo leitor? Quem e como seu
personagem é?
Lembre-se de não descrever os longos cabelos loiros da
protagonista e a marca do jeans que ela usa, se não tiver um propósito para
isso. E não descreva “Beatriz era um anjo de pessoa”. Em vez disso, mostre
ao seu leitor o quanto ela é boa: “Beatriz ajoelhou-se diante do mendigo,
entregou-lhe uma nota de dez reais e emitiu um sorriso constrangido, porque
sabia que aquele dinheiro não iria tornar a vida daquele miserável melhor”. Mostrar
é sempre preferível do que descrever.
7) Não
deixe abismos no texto
O leitor
está lendo seu livro, está quase chegando no desfecho final, quando de repente,
a história termina de forma tão brusca que o leitor se pergunta: “Peraí: acabou?”.
Não seja cruel com leitor.
Não o faça se atirar num precipício para conhecer o
fim da história. Alcance a ele uma corda de rapel, pelo menos. Uma escada é mais
indicada – o leitor pode descer os degraus e avistar o chão aos poucos, até
alcançá-lo em definitivo, o que lhe trará maior satisfação do que uma
queda-livre, em que ele vai se estatelar lá embaixo!
8) Não
encha o cálice do leitor de uma só vez
Já foi a uma
degustação de vinho? É bom, não é?
O que podemos aprender com esses eventos é
nunca encher o copo do leitor até a borda, de uma só vez.
Não queira
embriagá-lo – como o leitor conseguirá continuar a leitura se estiver num coma
alcoólico?
Vá servindo-o aos poucos, segurando os mistérios e revelando apenas
detalhe deles, em cada capítulo, até desnudá-los por completo no fim. Isso não
quer dizer que você deva exagerar, deixando o leitor na mais completa
abstinência até, por fim, despejar a garrafa inteira em sua boca! Calma! Sirva
aos poucos; primeiro, um dedinho do Tannat; depois, dois dedinhos do Cabernet;
até finalizar com um belo Boschendal, Reserva 2012.
Medida certa é essencial
para seduzir seu leitor.
9) Revise
diálogos
Cuidado com
gírias e regionalismos – ao mesmo tempo que eles dão maior verossimilhança por
permitir diálogos mais convincentes, eles tornam seu livro marcado pelo tempo e
pelo espaço.
Duas das características para uma obra ser considerada de
qualidade é ser atemporal (ou seja, ter relevância e ser compreendida
mesmo cem anos depois de publicada, p.ex.) e universal (ou seja, poder
ser lida e falar ao coração das pessoas de todos os lugares do mundo). Isso
significa que gírias e regionalismos são prejudiciais, caso o autor não tenha
tato ao usá-los.
Se você sabe a medida certa, okay, vá em frente. Do contrário,
evite-os sempre que puder.
10) Tenha em mente a estrutura de sua narrativa
O narrador
é em primeira pessoa? É narrador-protagonista ou testemunha (autodiegético ou
homodiegético)? Ou então, é um narrador em terceira pessoa (heterodiegético)? E,
ainda, ele está narrando no pretérito ou no presente?
Tenha sempre
em mente as suas opções para não acabar se perdendo no texto.
Lembre-se das
limitações do narrador em primeira pessoa, já que ele é um personagem e,
consequentemente, não sabe de tudo.
Lembre-se, também, que, se seu narrador for em terceira pessoa, isso não
significa que tenha que contar tudo ao leitor. Ele pode ser misterioso, sim, e
só compartilhar os segredos na hora certa.
Do mesmo modo, se o narrador estiver discorrendo sobre os eventos no
passado, procure manter assim. A mudança de tempo verbal só deve ocorrer em
trechos precisos e desde que você, autor, saiba o que está fazendo!
Gostou? Concordou
ou discordou? Espero que as dicas tenham sido úteis.
Fique a par
das notícias do blog, tornando-se um SEGUIDOR.
Em breve,
indicações imperdíveis de leitura.
Fique bem,
leia muito!
Cristiane
Krumenauer
Escritora e Mestre em Literatura