De muitos
obstáculos que enfrentei ou que me faziam enfrentar, aprendi com muito custo a
superá-los em silêncio, sem me debater contra aquele que o implantava diante de
mim, tentando me derrubar. Aos vinte e tantos anos, as afrontas são vistas como
uma grande ameaça e a melhor posição que pensamos adotar é a de ataque. Eu
atacava. Atacava sempre e sempre à altura dos que me atacavam. Eu não permitia
me calar e ficar observando. Achava que tinha que me defender. Pois é... na
verdade, eu não tinha.
Com o tempo,
quando fui amadurecendo e estava numa posição de poder analisar as ameaças sem
sentir medo, consegui perceber muita coisa. Num período de plena consciência e
não muita fragilidade, parei de reagir contra aquele que me ameaçava.
Simplesmente deixei acontecer e o resultado me surpreendeu, até hoje.
Foi quando
parei de reagir que meus inimigos foram derrotados... por si próprios! Minha
atitude não foi outra senão a da observação. Quanto mais os inimigos tentavam
me oprimir no trabalho, mais pessoas ao meu redor passaram a me defender,
incluindo os chefes, que prezavam pelo bom relacionamento no ambiente.
Um dia, ainda
recordo como se fosse hoje, perguntaram a minha opinião sobre a possibilidade
de demitir ou não o meu adversário. Aquilo me pareceu estranho, pois não cabia
a mim tal decisão, afinal, eu não era parte da diretoria. Fui discreta, fui
ética, disse que haveria que se pensar onde conseguiriam contratar outro
profissional com as mesmas qualidades.
Os dias iam
seguindo e a velha estratégia inimiga persistia: “se quiser ser alguém, esmague
seus adversários. Mostre que seu trabalho é melhor ressaltando os defeitos do
outro”. Que bom que na vida, nem sempre é assim.
No final do
ano, quando tive que pedir demissão pela transferência de meu esposo para o
Estado do Rio de Janeiro, meu inimigo fez uma festa de despedida. Sinceramente,
eu cheguei a pensar que toda a encenação fosse verdade! Aproveitei a festa,
despedi-me de meus colegas e agradeci muito pela oportunidade de ter estado com
eles. Agradeci também ao meu inimigo, por ter se importado em mobilizar o
pessoal em meu último dia de trabalho. Somente dias depois que percebi a sua
estratégia: ele estava sendo malvisto por não ter um bom relacionamento no
trabalho. A festa, então, era uma tentativa de mostrar a todos que ele se dava
bem comigo e que não havia motivos para que os colegas, e principalmente os diretores,
se pusessem contra ele.
Eu não acredito
que todas as pessoas sejam puras, pois sei do que são capazes para alcançar o
que desejam. Ainda assim, não vou ser artificial, tampouco pretendo me tornar
uma estrategista. Eu sei que para se chegar ao sucesso, precisamos ter certas
desenvolturas, mas acredito que, acima de tudo, há um Deus que rege tudo isso.
Eu não fui
fraca por não reagir ao confronto. Apenas acreditei e acredito que há alguém
iluminando minha vida. Acredito também que precisamos ficar mais atentos ao que
fazemos. Se agirmos irresponsável e maldosamente, logo veremos os malefícios
que criamos... a nós mesmos.
Não tenho
dúvidas disso! Meu adversário não se manteve no emprego. A mentira não tem e
nunca terá forças para vencer o tempo. Eu mesma, quando entregue ao orgulho e à
raiva, já colhi muito que não queria colher. Paciência! A vida é um
aprendizado, às vezes sutil, na maioria das vezes cruel.
Nem sempre é
fácil enxergarmos o porquê de estarmos em determinada situação. É preciso viver
e refletir para passar a perceber certas coisas. Eu sigo vivendo... mais feliz
do que infeliz, mas para continuar assim, pretendo continuar vendo e analisando
o que me move até aqui.
A vida não é
um deixar viver. Temos o compromisso de aprimorar dia após dia. Essa tarefa não
é fácil, é cansativa, mas tem que perdurar a vida toda, dos primeiros aos
últimos dias. Ela faz parte de nossa natureza – da natureza humana – e, ao meu
ver, não há nada que traduza melhor o sentido de humanidade que o constante aprimoramento.
A sabedoria do mercado pode ser conquistada com astúcia, vários diplomas e
certificados. Mas a sabedoria da vida provém dela mesma!
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