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sexta-feira, 11 de abril de 2014

2014: FUTEBÓIS DA EXCLUSÃO



Se me perguntarem o que acho a respeito da Copa no Brasil, direi, sem dúvida alguma, que esse evento marcará uma nova era social em nosso país. Social? Exatamente, e não é preciso ser um analista político para saber as razões disso.
Para explicar por que acredito numa nova era social, farei uma analogia com o tempo em que vivia em Gramado – a cidade do Cinema. Àquela época, eu contava com apenas 22 anos e havia me mudado para lá devido à minha profissão. Professora de Inglês extremamente dedicada, havia passado semanas escrevendo o material didático que os alunos fotocopiariam, tudo porque não tinham recursos financeiros para adquirir o livro da matéria. Procurava ser o mais eficiente que eu podia. Meu objetivo era levar àquele público o conhecimento básico da língua inglesa e tinha bastante entusiasmo para isso.
Entretanto, durante todas manhãs, não sentia que meus alunos estavam tão entusiasmados quanto eu. Chegavam exaustos para os estudos, porque trabalhavam às tardes e às noites, envolvidos com o turismo. Havia os que trabalhavam em sorveterias; outros, em chocolatarias; alguns, em lojas de confecções em couro; muitos, em restaurantes. A segunda-feira era o pior dia da semana, pois o cansaço do fim de semana se tornava visível diante de todos.
“São apenas adolescentes! Contudo, fazem a cidade de mover!”, pensava, solidária com aquela labuta.
Então, o Festival de Cinema teve início. Como aquele era o meu primeiro ano em Gramado, era natural que eu estivesse cheia de expectativas. Certamente, poderia ver vários artistas e participar de vários eventos, principalmente porque trabalhava no maior colégio da cidade.
No entanto, a euforia logo passou, deixando-me um aprendizado e tanto: havia lugar ao sol, mas esse lugar era reservado apenas para alguns. O evento não estava sendo feito para um grande público. Nem eu nem meus alunos podíamos participar do festival. O Festival de Cinema funcionava, de fato, como um cinema, em que tudo se passava na tela, somente na tela, enquanto nós, o público, apenas assistíamos àquilo à certa distância, preferencialmente bem longe.
Compartilho a minha frustração: em cinco anos de trabalho, vi o colégio estadual da cidade ser convidado apenas para algumas meras exibições de filmes. Isso, claro, somente quando não havia outro público de maior requinte. Servíamos apenas para ocupar espaço, já que poltronas vazias transmitiriam uma imagem negativa do evento.
Neste ano, a Copa será realizada no Brasil. De igual forma, a maioria de nós ficará de fora dos estádios, de fora dos hotéis de luxo onde estarão as seleções, de fora do orçamento do governo federal, enfim, é a vida novamente reservando o que há de melhor apenas para alguns.
Por outro lado, há um quê de insatisfação no ar. Os movimentos de protesto indicam que a sociedade está se organizando para demonstrar toda a frustração de estar sendo constantemente excluída. A princípio, a dura realidade parece não ter mudado nada. Continuamos trabalhando, e muito, em benefício de uma minoria. E para que haja uma mudança efetiva, resta-nos continuar demonstrando (sempre pacificamente) que, embora nos ignorem, continuamos aqui e já que estamos aqui, também queremos nosso lugar!

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