Se me
perguntarem o que acho a respeito da Copa no Brasil, direi, sem dúvida alguma,
que esse evento marcará uma nova era social em nosso país. Social? Exatamente,
e não é preciso ser um analista político para saber as razões disso.
Para explicar
por que acredito numa nova era social, farei uma analogia com o tempo em que
vivia em Gramado – a cidade do Cinema. Àquela época, eu contava com apenas 22
anos e havia me mudado para lá devido à minha profissão. Professora de Inglês
extremamente dedicada, havia passado semanas escrevendo o material didático que
os alunos fotocopiariam, tudo porque não tinham recursos financeiros para
adquirir o livro da matéria. Procurava ser o mais eficiente que eu podia. Meu
objetivo era levar àquele público o conhecimento básico da língua inglesa e
tinha bastante entusiasmo para isso.
Entretanto, durante
todas manhãs, não sentia que meus alunos estavam tão entusiasmados quanto eu.
Chegavam exaustos para os estudos, porque trabalhavam às tardes e às noites,
envolvidos com o turismo. Havia os que trabalhavam em sorveterias; outros, em
chocolatarias; alguns, em lojas de confecções em couro; muitos, em
restaurantes. A segunda-feira era o pior dia da semana, pois o cansaço do fim
de semana se tornava visível diante de todos.
“São apenas
adolescentes! Contudo, fazem a cidade de mover!”, pensava, solidária com aquela
labuta.
Então, o
Festival de Cinema teve início. Como aquele era o meu primeiro ano em Gramado, era
natural que eu estivesse cheia de expectativas. Certamente, poderia ver vários
artistas e participar de vários eventos, principalmente porque trabalhava no
maior colégio da cidade.
No entanto, a
euforia logo passou, deixando-me um aprendizado e tanto: havia lugar ao sol,
mas esse lugar era reservado apenas para alguns. O evento não estava sendo
feito para um grande público. Nem eu nem meus alunos podíamos participar do
festival. O Festival de Cinema funcionava, de fato, como um cinema, em que tudo
se passava na tela, somente na tela, enquanto nós, o público, apenas assistíamos
àquilo à certa distância, preferencialmente bem longe.
Compartilho a
minha frustração: em cinco anos de trabalho, vi o colégio estadual da cidade
ser convidado apenas para algumas meras exibições de filmes. Isso, claro,
somente quando não havia outro público de maior requinte. Servíamos apenas para
ocupar espaço, já que poltronas vazias transmitiriam uma imagem negativa do
evento.
Neste ano, a
Copa será realizada no Brasil. De igual forma, a maioria de nós ficará de fora
dos estádios, de fora dos hotéis de luxo onde estarão as seleções, de fora do
orçamento do governo federal, enfim, é a vida novamente reservando o que há de
melhor apenas para alguns.
Por outro
lado, há um quê de insatisfação no ar. Os movimentos de protesto indicam que a
sociedade está se organizando para demonstrar toda a frustração de estar sendo
constantemente excluída. A princípio, a dura realidade parece não ter mudado
nada. Continuamos trabalhando, e muito, em benefício de uma minoria. E para que
haja uma mudança efetiva, resta-nos continuar demonstrando (sempre
pacificamente) que, embora nos ignorem, continuamos aqui e já que estamos aqui,
também queremos nosso lugar!
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